Paraíso Sport Clube da Foz: A história da luta para sair do inferno


É numa rua calcetada com paralelos, no coração da Foz velha, que fomos encontrar o brasão imponente do Paraíso Sport Clube da Foz, cravado na parede de granito de um prédio de traço antigo e portas envidraçadas. Lá dentro, as mesas já estão postas para as refeições rápidas da hora do almoço. “O presidente já está no escritório, no piso de cima, pode subir pelas escadas”, aponta um senhor por trás do balcão.

Degrau a degrau percebe-se que o passado foi glorioso. O verdete de alguns troféus não deixa grandes dúvidas, muitos anos já lá vão desde que foram erguidos. Pela parede acima retratos de formações de equipas de futebol de diversos escalões, com as cores mais ou menos desbotadas, fisgaram pedaços de uma glória que deixa saudades. Tudo alinhado e impecável até ao cimo da escadaria onde foram dispostas três bandeiras, vira-se à direita e o presidente Caló, como gosta de ser chamado, só tem tempo de deitar a mão a uma máscara para nos receber. A conversa é, mais ou menos, de circunstância para dar tempo a Pedro Montenegro, coordenador e parceiro de aventura, de chegar. Nas paredes algumas preciosidades destacam-se como uma bandeira acetinada do clube, encaixilhada há anos, já desbotada e a começar a desfazer-se. Por cima das escadas, outra bandeira de 1972/73, da Associação de Futebol do Porto, também ela encaixilhada, faz as honras da casa, mesmo por cima de um diploma amarelado pelo tempo de Campeão Distrital Amador da II Divisão, da mesma época.

Aos 84 anos, o Paraíso Sport Clube da Foz luta pela sobrevivência. O silêncio que se percebe rapidamente em todo o edifício contrasta com os dias do frenesim de antigamente, que se adivinham facilmente. “Tivemos de desativar o futebol e, mais recentemente, o futsal, por causa da divida que se fez para as obras da sede”, explica o presidente que, quando ali chegou evitou que a derrapagem financeira fosse maior. Vale ao clube o dinheiro de um punhado de sócios para manter portas abertas. Mas é preciso pagar a divida.

Entretanto, Pedro Montenegro chega e explica o plano em marcha para relançar o clube. “Fizemos uma parceira para trazer para aqui a minha escola de formação e voltar a dinamizar o clube. Queremos competir com equipas dos Sub-9 aos Sub-15 e depois consolidar esta estrutura para tentar dar outros passos no futuro e sonhar um pouco mais”, explica. Pedro Montenegro confessa ter vestido as cores vermelha e branca, às riscas, do clube durante a juventude e sabe do que fala quando aborda as razões que o levaram a pensar no Paraíso Sport Clube da Foz: “Aqui estou com gente leal, trabalhadora, sincera e verdadeira. Depois, porque queremos fazer formação com educação e dar o exemplo aos mais novos com as nossas atitudes, porque queremos gente bem formada e crianças felizes”. A nível financeiro, o clube pode estar nos “cuidados intensivos”, mas a verdade é que há riqueza humana de sobra para dar pernas ao projeto.

Mas a competitividade faz falta, porque sem ela, a sede não passará de um café com bilhares, atapetado de história e de alguns suspiros pelo passado, onde se joga umas cartadas ao fim-de-semana. “Não estamos totalmente parados, temos o São João, na rua, e um arraial até às cinco da madrugada. Depois temos o São Bartolomeu, que nos obriga a fechar a sede de junho a agosto, para fazer os fatos para o cortejo”, intervém o presidente. O papel social do clube é indiscutível, mas o que os seus dirigentes procuram hoje é recuperar alguma competição com o futebol. “É a razão de ser desta associação, que começou no futebol de rua e nasceu nos bairros que se juntavam e fazia campeonatos, até surgir a Associação de Futebol do Porto e das pessoas se terem filado”, acrescenta.

“Estamos cá para ajudar o clube e dar o nosso contributo, criar eventos, se for necessário, para angariar fundos, ou organizar um jantar de Natal, por exemplo, sem contar com os novos sócios que se pode atrair com a criançada que promete começar a entrar pela porta fora graças à Kids foot”, aponta Pedro Montenegro. Na reta final de uma conversa boa, o presidente Caló não escondeu pelo menos uma satisfação: “O senhor Anselmo Lages, sócio honorário, um dos grandes impulsionadores do clube e colunista do Jornal de Notícias, ainda soube deste projeto para relançar o clube, antes de morrer. Ainda lhe pude ler no olhar a satisfação por esta iniciativa avançar”.