Recomeçar é sempre um processo complicado no universo do futebol. E os próximos anos prometem ser tudo menos fáceis para o SC Freamunde, que recomeça do zero, ou seja, volta a arrancar da II Divisão Distrital em 2023/24. Encerrado o capítulo da Sociedade Anónima Desportiva (SAD) que geriu os destinos dos “capões” nos últimos anos. Não restavam muitas soluções para o histórico emblema de Paços de Ferreira que se deparava com uma dívida de 1 milhão de euros.
“Vamos procurar a estabilidade financeira que não temos. Fechou-se a SAD, pegou-se no clube e a grande prioridade é recuperar financeiramente. Poderá não ser possível em dois anos [prazo de cada mandato na presidência], mas já disse que o meu projeto era para dois mandatos”, começou por explicar Rui Vingança, a poucos dias de completar dois meses como presidente sucedendo a Hernâni Cardoso, que liderava o clube desde 2019. O ato eleitoral fechou com 163 favoráveis a Rui Vingança frente aos 65 de Hernâni Cardoso.
“No futebol sénior, o objetivo passa por subirmos de divisão já este ano, sabendo que isso por si só não chegará para aquilo que as pessoas têm sofrido nestes últimos anos. Mas precisamos de festejar e de nos voltarmos a unir ao clube. É um ano para recomeçar do zero, com uma identidade nova, uma dívida bastante grande que herdamos do clube, de quase 400 mil euros, e um PER (Plano Económico de Recuperação), que vamos tentar honrar. Mas os nossos atletas têm de perceber que a identidade do clube mudou”, acrescentou, consciente das dificuldades que vai ter para reerguer o clube.
Fundamental nesta altura é recuperar apoios e nas últimas semanas, Rui Vingança e a sua direção têm-se desdobrado em contactos. “Fomos bem recebidos pela autarquia e pela Junta de Freguesia, que prometeram colaborar connosco. E só assim faz sentido. Mas precisamos da ajuda de mais forças da cidade e até de fora dela e é para isso que temos trabalhado, porque sozinhos não teremos condições para reerguer o clube e levá-lo aos patamares que desejamos”, vincou.
As contas prometem ser claras para que sócios e adeptos tenham consciência das iniciativas tomadas: “Nenhum diretor vai meter a sua casa no clube, enquanto não for sustentável apresentaremos contas aos sócios. Mas tenho um sonho, como Presidente, que é ver o Freamunde nos Nacionais e sei que os sonhos só se tornam realidade com trabalho e que se não formos atrás deles, não vão acontecer”.
Aqui, vale um registo: a última vez em que o SC Freamunde esteve em competições profissionais foi na época 2016/17, onde disputou a Segunda Liga (Ledman LigaPro) e terminou na 21ª posição, descendo assim ao Campeonato de Portugal. Na época seguinto (17/18), uma nova descida, dessa vez para os campeonatos distritais.
Crédito da Fotografia: CNN Portugal
Empenhado em gerir o clube como uma empresa, o diretor comercial, na vida profissional, não esconde que é importante recuperar também a imagem. “Nos últimos anos, o clube caiu num descrédito que nos levou a um ponto em que os sócios e a cidade se afastaram. Pretendemos recuperar o bairrismo que já foi a imagem de marca do Freamunde, mas que, devido ao descrédito em que caíamos, foi-se perdendo. Queremos que as pessoas da cidade se voltem a envolver no projeto e recuperar os sócios que perdemos, porque sem eles o clube não existe”, sublinhou ainda Rui Vingança.
O dinheiro é contado, como é fácil de perceber, mas não faltam é projetos: “Temos planos traçados para o futebol feminino, porque o Freamunde ainda envolve nomes da seleção, como a Ana Teles, que gravou um vídeo para as nossas redes sociais, que agradecemos, ou como a Ana Gomes, entre outras atletas que passaram por cá”.
Na formação a ideia passa por relançar o projeto com ambição. “Queremos voltar a ser uma referência ao nível da formação e para isso tenho uma equipa técnica para os juniores que podia liderar uma equipa de Liga 3 ou do Campeonato de Portugal, com o mister Mauro e o André Leão, que é seu adjunto e uma referência do clube [assinou recentemente pelo Leça]”, explicou.