O sonho do Crestuma começa a ganhar forma


O sol já tinha praticamente desaparecido atrás das árvores que cercam os terrenos do futuro parque desportivo do FC Crestuma, que começa a nascer naquela freguesia, quando o presidente Faustino Sousa estacionou no meio das terras remexidas. Desde junho, só mesmo a Covid-19 tem impedido que o projeto lançado no ano passado esteja mais adiantado nesta altura, mas o sonho está a ganhar contornos no terreno e materializa uma promessa de cerca de duas décadas. “Sim, é verdade, era uma promessa de há 20 anos, a que o presidente Eduardo Vítor Rodrigues deu andamento e aprovou em julho do ano passado. A obra foi adjudicada por pouco mais de 1,3 milhões de euros e já foi adiantado pela Câmara Municipal metade das verbas. Com esse dinheiro e algum património do clube – que não é grande e conta com os terrenos do campo antigo que poderão render algum dinheiro – arrancamos com as obras recentemente”, explicou Faustino Sousa.

O contrato-programa aprovado prevê uma primeira tranche de cerca de 780 mil euros, para a edificação de um campo de futebol de onze, com relvado sintético, um recinto polidesportivo dedicado à formação, um edifício de apoio dotado de seis balneários e uma bancada com capacidade para 800 espetadores. “O clube é o único de Vila Nova de Gaia, que não tem formação. A construção deste parque desportivo tem por objetivo dotar o clube dessa mais-valia, desenvolver a freguesia e cativar mais jovens, além de recuperarmos os nossos sócios, que têm andado um pouco mais afastados pelo facto de não termos casa própria e de sermos obrigados a jogar fora.

Neste momento estamos no Perosinho a jogar e a treinar, o que nos traz grandes transtornos. Estamos à espera deste estádio”, acrescentou. Com a construção do novo parque desportivo, o FC Crestuma estará pronto para dar outros passos, mas sem perder a noção da dimensão da freguesia. “A freguesia é pequena, mas é o que é, cada um nasce como pode. Sabemos que vamos ser sempre pequenos, mas dentro de um patamar sério e equilibrado, com uma formação que nos ajude a alimentar a equipa sénior e que cative as pessoas, porque nesta freguesia não há grandes empresas que nos ajudem com a despesa. Mas queremos que os nossos adeptos voltem a vir ao futebol ao novo estádio, como faziam antigamente, no velho campo que temos”, explicou Faustino Sousa.

O presidente não esconde alguma ansiedade com o passo que está a ser dado nesta sua segunda passagem pelo clube. “Estou no FC Crestuma desde 2005/06, mas já cá tinha estado entre 1988 e 1997, portanto tenho uma ligação ao clube de 40 anos. Sou de cá, o meu pai era guarda-redes e o meu tio defesa-central do Crestuma, comecei a vir com eles ao futebol. Mais tarde fui atleta do clube e em 1988, com um grupo de jovens, peguei no clube até 1997. Mais recentemente, voltei a pegar no FC Crestuma com muitas dívidas às finanças, estabilizamos o clube, renegociamos as dívidas, pagou-se tudo e o clube continua”, contou.

Com uma ligação tão grande a este emblema de Vila Nova de Gaia, percebe-se, naturalmente, o impacto que este projeto está a ter junto dos mais aficionados e do presidente, em especial. “Bem, o FC Crestuma tem 80 anos e eu já estou cá há 40. Portanto, mexe um bocado, sim e não ganho nada com isto. Mas também faço parte do executivo da Junta de Freguesia e de algumas coletividades desta terra, de uma IPSS que tem um lar de idosos aqui perto e, portanto, é natural que tudo isto mexa muito com o coração”, reconheceu.

Com este projeto materializado, o clube ficará com estruturas para encarar o futuro com otimismo, mas Faustino Sousa tem noção que terá de envolver mais gente para seguir em frente. “O futuro do clube está aqui. Depois será necessário criar outras sinergias e tenho algumas em mente para deixarmos garantias para o futuro. Mas o FC Crestuma tem de se renovar, porque tenho 60 anos e isto não vai passar sempre por mim, temos de ser realistas. Têm de se criar novas dinâmicas”, apontou.