Mudança de mentalidade foi a grande alavanca


A EDC Gondomar está de regresso à I Divisão do futsal feminino, depois de se ter sagrado campeã da II Divisão Nacional. Mas mais do que reforçar a equipa ou mudar de sistema de jogo para conseguir chegar ao sucesso a chave da temporada esteve sobretudo na mudança de mentalidade coletiva que alavancou o emblema gondomarense para o título e a correspondente subida de divisão. “Na época passada parece que havia aqui um estigma qualquer. A partir do momento em que qualquer coisa corria mal tinha tendência a piorar. Se começávamos a perder já não conseguíamos dar a volta, aliás, às vezes estávamos a ganhar e no final as coisas viravam sem percebermos porquê”, explicou o treinador Sérgio Carvalho. “O aspeto importante em que melhoramos muito do ano passado para este foi, sem dúvida, a parte mental. As jogadoras mostraram uma vontade enorme e procuraram sempre dar sempre resposta. Conseguimos ter mais maturidade competitiva, não acusamos o stress de estar a perder, mantivemos o foco e fizemos recuperações brilhantes. Acho que foi essa mudança de mentalidade, mais do que o nosso estilo de jogo, que nos levou a ganhar esta época”, acrescentou.

Há palavras que João Paulo Cruz, presidente do EDC Gondomar, não esqueceu e que espelham perfeitamente aquilo que Sérgio Carvalho apontou: “No segundo jogo desta primeira fase do campeonato, na fase do Norte, na Gafanha, estivemos a perder 2-0 ao intervalo e lembro-me de conversar com a nossa sub-capitã e da resposta dela. Dizia que estava confortável no jogo a perder por 2-0, porque sabia que ia virar e ganhar. Acabou por acontecer e retive essas palavras. Percebi ao longo da época que, com mais ou menos dificuldades, mesmo a perder em algumas ocasiões, que a força mental faria com que todas acreditassem que iam conseguir, o que não acontecia na época passada. Resolvemos jogos nos últimos segundos e viramos resultados, perdemos esse medo”. “Quando dizíamos que nos sentíamos confortáveis não era para desvalorizar ninguém, mas porque estávamos tão focadas que sabíamos que íamos lá chegar. Sabíamos que só dependia de nós. Foi essa diferença de maturidade que se revelou a grande alavanca para conseguirmos ser campeãs”, reforça Salomé, jogadora do emblema gondomarense.

É claro que tecnicamente, os conhecimentos de Sérgio Carvalho e algumas mudanças que efetuou também contribuíram de forma decisiva. “Este ano foi melhor porque tivemos mais tempo para trabalhar, passamos de dois para três treinos por semana, fez-se um trabalho mais sistematizado e a equipa cresceu muito”, começou por apontar. Mas a temporada anterior também serviu para perceber algumas lacunas que detetou na equipa e reforçá-la convenientemente. “Já tinha referenciadas as jogadoras que queria para reforçar a equipa, à exceção de uma delas, que veio cá treinar e que nos agradou muito. Mas já as conhecia e acabou por ser fácil, porque a abordagem foi cirúrgica, eram as que nós precisávamos e assim compusemos a equipa para atacar a subida”, acrescentou.

Ao trabalho desenvolvido juntaram-se os resultados e o balneário consolidou-se a cada semana que foi passando. “Os três treinos deram-nos mais ritmo de jogo e mais tempo para integrar os reforços. Mas esse ritmo que fomos adquirindo nos treinos também teve muito a ver com a fasquia que nos impusemos, ou seja, se eu for capaz de treinar a 85 vou tentar treinar a 90 no treino seguinte para chegar melhor ao jogo. Com o tempo sei que vou conseguir colocar ainda mais acima o meu limite e responder com mais facilidade às exigências competitivas. A seguir, vou chegar aos jogos em ritmo de “passeio” e sentir que estou por cima. Essas reviravoltas de que falamos atrás, também foram possíveis por isso, por termos um ritmo superior à concorrência”, partilhou ainda Nani Alves, subcapitã da equipa.

Na próxima temporada é já ponto assente que o treinador vai mudar, mas a direção mantém a ambição de fazer jus à reputação que a EDC Gondomar tem no futsal feminino e promete continuar a elevar a fasquia. “A escola de Gondomar tem de se afirmar como clube primeiro. Sempre que descemos achamos que tínhamos condições para estar na I Divisão e quem conhece o futsal feminino sabe disso e o que podem esperar. Este regresso será diferente pelos investimentos e porque isso levou a que hoje haja mais equipas a lutar pelo título. Mas também não haverá muitas opções, porque com a pandemia deixou de se trabalhar tanto ao nível da formação”, comentou o presidente João Paulo Cruz. Com este cartão de visita, o presidente acredita que vai conseguir atrair bons valores para a campanha na I Divisão Nacional. “É importante sermos mais de que um clube, agregar valores e a empatia das pessoas. Os outros têm tentado, nós conseguimos”, aponta. É inegável hoje que o clube criou uma reputação competitiva que atrai jogadoras apostadas em evoluir e chegar mais acima. Mas será isso suficiente? “O balneário é bom, é o melhor onde já estive, já por cá passaram muitas jogadoras, mas encontrar um grupo como este é muito difícil”, garante a Salomé. “Aqui existe uma certa mística. É como um buraco negro, as pessoas vêm e acabam por ficar presas cá”, completa a Nani Alves, antes de a Salomé reconhecer que para quem gostar de um bom desafio, a próxima época na EDC Gondomar será isso e muito mais: “Vamos precisar de ter outra maturidade. Vamos entrar em campo conscientes de que não vamos ganhar tantas vezes, mas que será sempre necessário continuarmos a jogar no limite”.