Nos dias de hoje, Baião debate-se com as dificuldades típicas de um concelho do interior, apesar de fazer parte do distrito do Porto. Esta é a conclusão que se tira depois de mergulhar numa realidade em que os jovens são na maioria das vezes forçados a abandonar as suas origens para estudar na Universidade, ou abraçar o mundo do trabalho.
“Nos últimos anos temos perdido muita população jovem. Temos menos gente do que algumas freguesias do Porto, Vila Nova de Gaia, ou Maia. Somos o concelho do distrito do Porto que mais crianças tem perdido, o que faz com que tenhamos muita dificuldade para termos equipas, por exemplo, de Sub-19, principalmente de segundo ano. Se forem bons alunos vão estudar para fora para as universidades. Se optarem pelo mundo do trabalho, geralmente, também vão para as grandes cidades ou para o estrangeiro”, resumiu José Martins, presidente da AD Baião, que subiu à I Divisão Distrital de seniores da Associação de Futebol do Porto na última época.
Para explicar os motivos que levam os clubes de Baião a ter de lutar para se manterem competitivos, José Martins foi claro: “O nosso concelho tem mais a ver com Trás-os-Montes do que com o Douro litoral. Além disso, aqui ao lado, temos dois centros muito dinâmicos, como Marco de Canaveses e Amarante, que atraem muito gente de Baião”.
Ainda assim, o esforço e a dedicação está a fazer a AD Baião renascer e a sair de uma crise financeira resultante de uma aposta passada, que a fez pisar os campos da Divisão de Elite, entre 2015/16 e 2018/19, e que se traduziu numa dívida considerável – paga nos últimos anos. “A AD Baião teve o cuidado de manter o clube e pagar a divida que existia, fizeram uma grande restruturação financeira e na época passada já estiveram num bom nível competitivo e subiram”, reconheceu Filipe Fonseca, vice-presidente da Câmara Municipal de Baião e vereador do desporto.
O autarca reconhece os problemas, que não se limitam à AD Baião, mas garante que a Câmara está atenta e apoia os clubes da região, de acordo com aquilo que está regulamentado. “Para os clubes a situação é sempre urgente e nem sempre conseguimos apontar prazos para os ajudar. Sabemos que estão a apostar na formação e estamos atentos a quadros de financiamento para ajudar. Mas não será por falta de apoio do município que as coisas não vão acontecer”, garantiu Filipe Fonseca.
Mas há carências que se mantêm. “Temos um relvado com 19 anos, precisávamos de outro campo. Podíamos ter mais equipas com mais campos, mas é complicado”, reconheceu José Martins, que interpreta os apoios com realismo: “É um pouco a história do copo meio cheio e do copo meio vazio: Quem dá acha que é suficiente, quem recebe acha sempre que é pouco”.
Já o caso da AD Ancede, que milita na II Divisão Distrital é outro exemplo prático. O clube está de volta à competição desde 2019, com um projeto liderado por Augusto Sousa, antigo dirigente da AD Baião, que decidiu virar-se para a sua terra. “O projeto tem vindo a crescer e nesta altura o que nos está a penalizar é a falta de um piso sintético. Temos estado em conversações com a Câmara e temos esperança de ver essa realidade materializar-se, porque sem um piso sintético estamos a começar a ver alguns atletas fugir daqui”, explicou.
A AD Ancede regressou ao futebol sénior e à II Divisão Distrital na época passada e conta já com três escalões na formação. “Na época passada chegamos a ter cerca de 60 atletas, mas este ano devemos ultrapassar esse número. Inicialmente começamos numa liga amadora da região do Marco de Canaveses, para cativar os sócios, conquistamos o título logo na primeira época, fizemos uma segunda e demos o salto, no ano passado, para a II Distrital. Também estamos a trabalhar na certificação do clube e queremos continuar a desenvolver um trabalho sério”, completou ainda Augusto Sousa.
No ACR Santa Cruz, o terceiro de três clubes federados do concelho, equipa de futsal, um dos maiores obstáculos é a falta de treinadores. “Temos tentado contratar um e não temos tido sucesso. Não querem vir para cá. Ultimamente até andamos a tentar um professor de educação física, porque não arranjamos nenhum treinador”, explicou Artur Borges, presidente do clube. As deslocações são outro grande problema: “Temos necessidade de uma viatura para nos deslocarmos. É tudo muito distante e muitas vezes não temos forma de resolver esse problema e isso impede de podermos contar com alguns atletas de mais longe”.
