O GD Árvore já se sagrou campeã da Divisão de Elite de futsal feminino e está na corrida para alcançar a II Divisão nacional. Acredite-se, ou não, estes eram objetivos para tentar na próxima temporada. Só que uma vitória nas Aves – contra a equipa tida como a maior favorita – por 5-2, à 4ª Jornada, abriu os olhos a toda a gente. Afinal era possível ir até ao fim e ganhar. As atletas começaram a acreditar, os resultados confirmaram-no jornada após jornada. De então para cá, o GD Árvore esteve 22 jogos sem perder, tropeçando apenas na Taça de Portugal feminina contra o Leixões (5-4) e na Taça Nacional feminina Série B, contra o CR Candoso/Natcal (3-2). Agora, o GD Árvore está de olhos postos na II Divisão Nacional, pelo que restam seis finais para chegar “ao pote de ouro”.
De “outsider” no início da temporada, a equipa de Vila do Conde é a grande sensação e… favorita à subida. “O objetivo nem de longe, nem de perto, era sermos campeãs. Este ano era para criar a base e construir uma equipa para no próximo ano aí sim tentarmos o título”, começou por reconhecer o mister Francisco Mandim. Depois de uma falsa partida em ano de Covid, a surpresa foi acontecendo, com uma equipa que se foi revelando jogo a jogo. “A equipa foi evoluindo com os resultados. As atletas foram-se mentalizando e percebendo que se continuassem a trabalhar muito podiam atingir objetivos mais altos”, completou.
Pelo caminho, as jogadoras do Árvore foram abatendo alguns “fantasmas” e as dúvidas foram-se dissipando. “Na segunda fase defrontamos adversários mais fortes, como o Aves e o Juventude de Triana, equipas que queriam ser campeãs, mas acabamos por ser claramente superiores, vencendo muito folgados contra eles. Não perdemos uma única vez no campeonato, estivemos 22 jogos sem perder, só perdemos recentemente nesta fase de subida”, enumerou o treinador. Mas foi a vitória no Aves que funcionou como um clique coletivo. “O jogo que fizemos em casa do Aves foi um momento-chave para acreditarmos que era possível. Na época anterior não tinha corrido bem, mas ao vencermos lá percebemos que afinal conseguíamos, que não eram só elas e que era possível!” insiste Tita, uma das capitãs e mais experientes jogadoras da equipa.
A Andreia, guarda-redes, não esconde de que forma todas elas foram vivendo essas vitórias mentais que desbloquearam tudo: “A cada dia que passava acreditávamos mais, cada vez mais nos sentíamos motivadas e unidas. Foi a união que nos levou até este nível e foi bonito de ver a evolução da equipa. Juntou-se um pouco de tudo, o trabalho do mister, o nosso trabalho, focamo-nos a sério naquilo que queríamos, no objetivo, e temos conseguido”.
A equipa cresceu e Francisco Mandim também percebeu que teria de introduzir algumas nuances nos jogos da segunda fase para surpreender os adversários. “Percebemos que podíamos encarar os jogos de outra forma para ferir os adversários na segunda fase. Abordamos os jogos de uma maneira diferente. Percebemos melhor de que forma jogavam e fomos trabalhando processos para os contrariar isso e tirar proveito dos pontos fracos”, explicou. A experiência de algumas atletas também se tem revelado decisiva e uma certa “matreirice” tem ajudado a elevar a qualidade. “É sempre importante perceber como está o jogo e como reagem os nossos adversários para jogarmos com isso, claro”, sorri a Tita.
O rendimento conseguido também tem compensado os inúmeros sacrifícios que se têm feito. “Abdicamos de muita coisa, de casa, da família, e o que me vale é ter gente que me rodeia que me ajuda. Sem isso não seria possível. Para já tem dado, mas uma mulher tem de fazer mais para competir. As rotinas são diferentes, também depende das idades, mas quem, como eu, tem família e casa é difícil. É preciso querer muito isto”, sublinha a Andreia, como quem lembra que o caminho nem sempre é fácil. Aliás, o mister puxa a fita atrás para explicar onde se foi buscar boa parte da coesão do grupo. “As mulheres reagem de outra forma, são mais sensíveis, mais ouvintes e é mais fácil implantar uma ideia numa equipa feminina. No masculino já têm mais vícios e outras formas de jogar. Fora do campo a relação entre elas é mais difícil, o que se torna mais difícil de gerir porque elas doem-se umas pelas outras, o que não é o caso dos homens. Mas evita-se muita coisa no início. Quando dizemos como é que as coisas são, fica-se logo salvaguardado. Depois se quiserem estar estão, se não quiserem não estão. Temos aqui atletas que não treinam há um mês, porque trabalham por turnos, mas acontece porque nós aceitamos isso assim, o que não é fácil, mas tinha de ser”, argumentou Francisco Mandim, antes de regressar ao que passou a ser um repto que se pode tornar real até ao final da temporada: “O sonho era chegar ao título e conseguimos. Agora temos outro sonho, que é tentar meter o clube na II Divisão Nacional, sabendo que vai ser difícil e que temos de estar melhor do que até aqui. Vamos ter seis finais e vamos lutar pelo primeiro lugar para chegar à II Nacional. Estamos preparados para qualquer grupo que nos possa calhar”, avisou.