O Cem Paus tinha descido à Divisão de Honra há quatro anos, quando Ricardo Santos foi desafiado a treinar os juniores do clube e a vestir a camisola de jogador nos seniores. Mas a direção não só despediu o treinador da equipa principal no início da época, como desafiou Ricardo Santos para assumir o banco dos seniores mais cedo.
O Cem Paus acabou por subir à Elite e por aí se manteve mais duas temporadas. Na época passada, a equipa disputou o acesso à Taça Nacional até ao último jogo, mas só esta temporada conseguiu subir esse patamar. “A ideia foi sempre potenciar os nossos jogadores, num clube típico de bairro, onde era essencial que entendessem que estávamos ali só para jogar e mais nada, porque tínhamos muita qualidade, mas que não se traduzia em rendimento, porque lhes faltava serem constantes e se desequilibravam emocionalmente com muita facilidade. Foi uma luta, mas tivemos de mudar mentalidades e comportamentos para passarmos uma imagem completamente diferente. Esse foi o nosso primeiro grande título”, contou Ricardo Santos.
Com o clube mais estabilizado, a equipa não tardou a somar resultados positivos e o grupo foi crescendo em qualidade de época para época, apesar do contexto em que vive, das limitações financeiras e da escassez de patrocínios. Mas nada que desmotivasse o grupo. “Fomos reforçando o grupo graças ao conhecimento de vários jogadores, alguns antigos colegas de equipa, mas sempre aliando à parte desportiva com a parte humana. Aproveitámos os que quiseram mudar e respeitar as nossas regras, com o objetivo de fazer cada vez melhor de ano para ano. No início desta época, achei que tinha reunido o melhor plantel da Divisão de Elite, mesmo sem condições financeiras”, confessou o treinador do Cem Paus.
O final da temporada acabou por mostrar que não andava longe da verdade e o Cem Paus conseguiu um marco histórico que vai permanecer, garantida que foi a subida à III Divisão Nacional. “Pela primeira vez atingimos uma divisão nacional, apesar de termos tido muitos jogos em que nem jogamos com metade do plantel, uns por lesões, algumas graves, noutros casos por castigo, em vários jogos importantes. O que nos valeu foi termos construído um plantel bem pensado, porque na hora da verdade veio ao de cima a qualidade, a experiência, a força, compromisso e vontade de ganhar, que fizeram a diferença”, explicou.
Entre os momentos decisivos na Taça Nacional, Ricardo Santos recorda o jogo no PARC-Pindelo e uma palestra que acordou a equipa. “Foi o despertar, só tínhamos mais três jogos e ou ganhávamos os três jogos para termos esperanças, ou acabava tudo ali. Mas demo-nos bem com a pressão. Depois da palestra desse jogo percebi que a mensagem tinha chegado ao destinatário, passei tudo o que tinha e o que sentia e a partir dali pouco precisei de falar até ao final”, recordou ainda invadido pela emoção.
Muitos jogadores do plantel atual já atuaram em divisões superiores, mas o treinador é da opinião que será necessário tentar segurar todos os elementos e somar-lhe mais dois ou três que venham acrescentar qualidade para jogar na III Divisão Nacional. “Não tendo capacidade financeira, temos de continuar a criar outras condições para competir com outros com mais dinheiro e compensar essas nossas dificuldades, por isso temos de ser mais fortes e assumirmos os nossos galões e reconhecer o nosso valor, porque sabemos o que valemos e os resultados mostraram isso mesmo”, sublinhou, “porque a confiança também vai ser importante para competirmos”, reforçou.
Por último, o treinador do Cem Paus quis valorizar o apoio importante que teve dos seus adeptos, que fizeram muitas festas nos pavilhões ao longo da época e se revelaram decisivos para alavancar a equipa para o sucesso. “A nossa força adepta foi incrível, foram uma espécie de jogador extra e até foi reconhecida pelos nossos adversários, por isso deixo aqui uma palavra de agradecimento, porque o apoio deles foi importantíssimo para nos ajudar”, vincou.