Oliver Parkes faz parte daquela categoria de pessoas que teve a coragem de largar tudo para ir atrás de um sonho, assumindo todos os riscos, até a pressão de, eventualmente, fracassar e dar por perdidos anos e anos de insistência para chegar onde um dia sonhou. Com 20 anos completados em Novembro, mais do que olhar para trás e questionar se a decisão que tomou de apostar em Portugal para chegar ao futebol de mais alto nível continua a ser realista, o médio britânico da equipa B do Gondomar SC impressiona pela convicção com que continua a acreditar nele e na possibilidade de realizar o sonho de uma vida.
Mas vamos por partes: interessa perceber como o médio de origem inglesa e jamaicana acabou por vir parar a Portugal. “Vim cá fazer um “trial” nos sub-18 e o Leixões gostou de me ver jogar e fiquei. Não me consegui inscrever por causa das novas regras definidas pelo Brexit e por causa da pandemia. Não pude jogar nessa altura. Na época seguinte assinei pelo Vitória de Guimarães, para jogar nos Sub-19, mas uma vez mais, tive problemas por causa da documentação e do Brexit. A pandemia ainda não estava completamente ultrapassada e acabei por ficar e entrar em jogos amigáveis e jogos-treino”, contou Oliver, que todos tratam por “Oli”, em Gondomar.
O sonho de Oliver começou a desenhar-se na formação do Crystal Palace, mas cedo percebeu que tinha de enveredar por um caminho diferente. “Joguei no Crystal Palace e em algumas academias, em Inglaterra. Mas muito mais difícil para um jogador como eu singrar em Inglaterra, na altura era um tecnicista, pequeno, e nas academias inglesas eles preferem jogadores mais físicos, o que não era o meu caso. Por isso acabei por sair para um país onde me fosse mais fácil mostrar o meu valor. Mas no final, claro, espero regressar e jogar em Inglaterra, porque não sou diferente dos outros nisso, todos querem jogar na Premier League”, explicou.
Decidido a seguir em frente, Oliver não se deixou abater. “Inicialmente era para ter seguido para Espanha para desenvolver o meu futebol, mas apareceu a oportunidade de vir para Portugal e resolvi agarrá-la. Acredito ter tomado uma boa decisão e noto em mim as diferenças no meu estilo de jogo, desde que apostei na formação em Portugal. Melhorei muito, tornei-me mais inteligente em campo. Tenho 20 anos, mas é sempre bom aspirar ao mais alto nível, acredito que ainda posso chegar a uma I Liga, ou uma II Liga, trabalhando e dando tudo de mim para isso”, garantiu.
Perceber as razões que o levaram a apostar em Portugal não fica por aqui: “Portugal tem muito a oferecer em termos de formação e desenvolvimento de jovens jogadores. Muitos jogadores portugueses alcançaram o mais alto nível, depois de terem tido formação em clubes como FC Porto, Benfica, Sporting, etc… São escolas de formação que têm uma grande reputação em Inglaterra, pelos jogadores que têm dado ao futebol, portanto, Portugal tem esse estatuto no que diz respeito à produção de talentos para o futebol”.
Mas há mais! Para Oliver há um caso prático que acaba por ser inspirador. “Não vejo por que não posso chegar a jogar ao nível de um Eric Dier. Fez um caminho muito interessante, semelhante ao meu até, fez quase toda a formação dele no Sporting, acabou por ter sucesso e hoje joga no Tottenham. Joga pela seleção inglesa e mostra aos jogadores como eu que só temos de acreditar em nós e que um caso como o dele é uma inspiração para chegarmos onde queremos”, argumentou Oliver.
Com tamanha convicção, de pouco adianta voltar à carga. Tem algum um plano B para o caso de as coisas falharem? “Plano B? Isso há sempre, mas esperamos sempre que o nosso plano A funcione”. Nem olhando para trás parece que se arrepende de alguma coisa: “Nunca podemos mudar o passado. É uma boa pergunta… talvez mudasse algumas coisas, provavelmente, sim, mas isso não faz grande diferença nesta altura”, vincou.
Oliver não deixa de olhar em frente, não se detém nos pormenores, nem se questiona. Confiança é a palavra que melhor o define e desta vez é ele que volta a apontar a direção: “A equipa B do Gondomar é muito boa, acho que aqui nos abrem possibilidades que não se têm em todos os clubes, porque as equipas do Gondomar são sempre muito seguidas e temos vários casos que o comprovam. Além disso, o facto do Canal 11 transmitir alguns jogos ajuda sempre a mostrar-nos e, quem sabe, despertar o interesse de um scout que nos possa estar a ver jogar. Espero marcar golos e fazer assistências e depois, se tudo correr bem, continuar a evoluir para chegar mais alto, mostrando o meu valor, como tenho tentado fazer. Vou continuar a trabalhar no duro em Portugal, quero ficar cá mais umas temporadas, embora nunca se saiba onde o futebol nos pode levar”.
E termina garantindo que não é caso único. Há muitos Olivers como ele: “Tenho amigos em Inglaterra e na Alemanha, com quem falo todos os dias. Alguns jogaram comigo e temos esse sonho de jogar em Inglaterra, quem sabe se até podemos jogar juntos, um dia. Mas vou continuar a lutar e a procurar melhorar para chegar onde quero. Tenho sonhos e objetivos ambiciosos e tenho de agradecer aos meus pais por me permitirem correr atrás dos meus sonhos. Eles sempre me apoiaram nisto, por isso gostava de um dia ver isto tudo dar frutos”.