O Águias de Gaia está de volta ao futebol sénior com a inscrição de uma equipa na II Divisão Distrital. Este é um regresso que se dá após o clube ter deixado de competir nos seniores desde o final do século passado, mas Joaquim Monteiro, coordenador do futebol do clube, explicou de que forma tem sido possível dinamizar este emblema e contar atualmente com mais de uma centena de atletas na formação. “Tivemos uma equipa inscrita no campeonato Sub-23 nos últimos três anos. Mas não houve grande interesse em continuar. Eeste ano decidimos inscrever-nos na II Divisão Distrital da Associação de Futebol do Porto. São quase todas equipas "B´s", mas a verdade é que dá outra visibilidade aos nossos jogadores e outra competitividade”, começou por explicar.
Como era de esperar, em ano de estreia na II Distrital, as ambições ainda são contidas: “Queremos ver como corre esta época, mas dentro de duas ou três temporadas queremos tentar subir. Só queremos trabalhar com jovens da nossa formação, só com a prata da casa. Essa é a nossa prioridade, embora nos tenham chegado dois jogadores do Canidelo, que jogavam na Elite”, avisou Joaquim Monteiro. “Mas temos bons jovens e com a equipa sénior vão continuar por cá muitos atletas que, de outra forma, saíam. Aliás, quando souberam que íamos inscrever uma equipa na II Distrital, regressaram muitos ex-jogadores, que tinham feito a formação connosco. Tem sido muito positivo deixarmos o campeonato Sub-23 e ficamos surpreendidos nestes primeiros jogos com a assistência que temos tido no Estádio da Lavandeira. Têm estado umas 200 pessoas e tem sido uma grande surpresa”, acrescentou.
Mas como é que se mantém um clube como o Águias de Gaia à tona e com um dinamismo que é de valorizar? “A comunidade à volta dos clubes acaba por se mobilizar para ajudar. Temos patrocinadores que nos dão lanches para as crianças e com algum dinheiro que sobra das mensalidades ajudamos os treinadores que vêm de mais longe a pagar deslocações. É assim que se vive aqui. Tenho angariado pais de alguns atletas, meto-os como sócios, porque de outra forma é difícil manter o clube vivo, são quase sempre os mesmos. Nas nossas equipas é igual: esta época sou treinador dos Sub-19 e o meu adjunto é um pai, o meu diretor e o meu treinador de guarda-redes também são pais de jogadores. Envolvo-os nisto. Nos Sub-17, o diretor é pai de um jogador e um dos adjuntos é pai de outro atleta dos Sub-15. Nos Sub-15 veio um treinador do Vilanovense e dois dos nossos seniores que são diretor e adjunto, respetivamente. Nos Sub-13, a equipa técnica é feita com quatro jogadores seniores. Mas temos mais casos. Fixo as pessoas assim para manter o clube a funcionar”.
Sem espaço próprio para desenvolver a atividade, o Águias de Gaia conta quase exclusivamente com o Estádio da Levandeira para gerir a sua atividade. “Os espaços para treinar não são muitos, mas felizmente temos tido a ajuda da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia. Gostávamos de treinar mais vezes, como é óbvio. Os nossos seniores treinam três vezes por semana e num desses dias treinam em campo inteiro. Mas estão a trabalhar em mais espaços de treino e pode ser que haja mais um dia para treinar no Complexo Desportivo Rui Jorge. Se metermos lá a formação, teremos mais espaço”, descreveu. Essencial tem sido o bom relacionamento que o clube mantém com a autarquia. “Tenho uma excelente relação com o Dr. Guilherme Aguiar [vereador do desporto do município de Vila Nova de Gaia] e o Mário Duarte [diretor de departamento na Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia], que têm sido de uma grande ajuda", disse.
No Águias, como nos outros clubes do futebol distrital, o mês tem de ser gerido com muito cuidado. “Não fazemos nada por dinheiro, até porque aqui os pais pagam 15 euros por cada criança da formação. Nem compreendo como se consegue pagar valores exorbitantes em alguns clubes. Cobram-se verbas que não fazem sentido, compreendo que o futebol seja um negócio, mas há pais que passam necessidades e nós temos aqui alguns, mais um ou outro que não paga, porque não consegue. Nem nós vamos dizer aos miúdos que não podem jogar. Lembro-me que há uns anos chegamos a ter aqui filhos de venezuelanos refugiados, que não pagavam, porque não podiam. Mas o que nos tem valido são alguns patrocínios que nos ajudam”, contou.
Do que Joaquim Monteiro se orgulha é de ter mais de uma centena de atletas na formação do clube. “Os Águias de Gaia acabam por receber alguns jogadores rejeitados pelos clubes à nossa volta e muitas vezes é com eles que conseguimos ser competitivos. Se forem ver, nos últimos anos, as nossas equipas têm ficado na metade superior da tabela. Depois, os clubes daqui voltam a vir cá buscá-los. Temos mais de uma centena de atletas, dos Sub-11 aos Sub-19, mas nunca contactei nenhum. Quem quiser vem às captações. Quando nos chegam cá miúdos de outros clubes costumo informar os dirigentes para não haver confusões mais tarde, porque não sou de aliciar, ou de contactar, seja quem for”, garantiu.