Liga Carlos Alberto: As várias vertentes de uma competição de sucesso


A Liga Carlos Alberto está de volta para continuar a proporcionar a crianças dos 4 aos 9 anos momentos inesquecíveis de convívio e competição, com o foco na aprendizagem que o desporto e o futebol proporcionam. O sorteio da edição de 2022/2023 vai decorrer na tarde desta quarta-feira, a partir das 17h00, e vai ter transmissão em direto na página de Facebook da Associação de Futebol do Porto.

Desde a sua criação, em 2006/07 como Torneio Rui Filipe, até à Liga Recreativa AF Porto Carlos Alberto, tal como a conhecemos hoje, a prova passou de oito equipas a mais de 200 que vão a sorteio esta temporada. A edição que hoje vai ser sorteada contará por isso com um número a rondar os 2100 atletas, todos com o enquadramento da Associação de Futebol do Porto.

“O nível competitivo subiu extremamente, hoje temos jogadores com mais qualidade”, reconheceu José António Costa, antigo coordenador da formação do Perosinho, que esteve na origem da criação da competição. “Tínhamos um problema com os árbitros que a AF Porto também nos ajudou a resolver e isso veio dar outra credibilidade”, acrescentou ainda. “Havia poucas condições, foram melhorando, e esse é um caminho que devemos continuar a fazer. Nas primeiras edições tínhamos de nos dividir por vários estádios, porque eram dezenas de equipas e centenas de jogadores que era necessário acomodar. Jogava-se em campos delimitados por fitas. Hoje é diferente. Mas era uma festa essencial, porque promovia o convívio entre crianças que só se encontravam uma vez por ano, num espírito competitivo diferente, onde começaram a ver outras realidades”, prossegue Rui Sousa, que cedo se juntou a José António Costa na organização da competição.

Para que a LCA (sigla usada habitualmente para denominar a competição) continue a evoluir, os dois fundadores apontam o caminho a seguir. “Tem de haver responsabilidade. Os jogos têm de começar a horas e isso é algo que atulamente já está resolvido, salvo raríssimos casos. Era inadmissível que um jogo marcado para as 11 horas começar às 12h30 - esse problema resolveu-se a partir do momento que existe regulamentação da Associação. Por outro lado cada vez menos se olha para isto como um torneio de Páscoa, ou como uma coisa menor”, sublinha José António Costa. "Os regulamentos são seguidos com mais rigor por parte dos clubes. Quanto aos resultados é algo que temos muita dificuldade em recolher, mas creio que é algo que a Associação também já está a resolver. Tudo isto ajuda na dinâmica da prova e essa dinâmica é fundamental para atrair cada vez mais clubes", disse.

Mas a missão da Liga Carlos Alberto vai muito para além da competição e da formação de jovens jogadores. “De pequeno é que se torce o pepino, como se costuma dizer, porque se não incutirmos responsabilidade a uma criança de 8 anos, a mesma responsabilidade que também lhe é incutida na escola, o que é que estamos a fazer a treiná-lo? Temos de contribuir para o formar como pessoa num meio diferente, que é um grupo, onde ele tem de jogar para o coletivo e não para ele, portanto estamos ali para ajudar a educá-lo”, explica ainda Rui Sousa.

“Há brincadeiras entre eles nos balneários, que são importantes para que cresçam. Para tomar banho aviso que dou 10 minutos e fecho a água. A partir dali saem como estiverem, para que ganhem o sentido da responsabilidade. Na vez seguinte, acreditem que já vão direitinhos. Outras vezes, os pais dizem-nos que o filho não come sopa e no final perguntam-nos o que fizemos para ele lhes pedir sopa às refeições. Ou chegamos a algum lado e as crianças dizem que os balneários não têm condições. Mas depois também acabam por se adaptar e saber enfrentar realidades diferentes, porque tanto podem entrar no Olival, onde têm todas as condições, como em outros clubes onde as condições não são as melhores”, atira José António Costa.

Contribuir para a educação das crianças tem sido essencial, mas o que ambos também apontam é a necessidade de os pais terem outras atitudes. “Começou com as arbitragens, quando se criou o Torneio Rui Filipe. Como não tínhamos árbitros pedíamos aos pais para apitar os jogos, apesar de eles serem sempre renitentes. Preferiam não o fazer e ficar de fora a insultar os árbitros, quando aquilo era para os miúdos se divertirem”, recordou Rui Sousa. “Os pais não compreendem e são os primeiros a criticar o treinador porque o filho não joga. Mas eu digo sempre aos pais que eles pagam para o filho treinar e não para ele jogar”, alerta ainda.

À formação e à educação, José António Costa e Rui Sousa juntaram uma vertente social e aqui a Liga Carlos Alberto também se tem destacado, nascendo um protocolo com a Acreditar. “É uma associação de pais e amigos de crianças com cancro. Há já alguns anos que jogamos com o símbolo da Acreditar no equipamento. Também costumávamos pedir aos pais para trazer bens não perecíveis que eram entregues a hospedeiras que faziam a recolha para a Acreditar nos nossos jogos e também já trabalhamos com a associação Casa amarela”, explicou Rui Sousa. “No dia 15 de fevereiro, Dia Internacional da Criança com cancro, compravam-se umas fitas para passar a mensagem às crianças, para que tomassem consciência de que era preciso ajudar as crianças internadas com cancro”, acrescentou ainda, consciente do muito que se tem feito e daquilo que ainda falta fazer para que a Liga Carlos Alberto continue a afirmar-se como uma competição decisiva na formação dos adultos de amanhã.