Há cinco anos, as instalações do ACR Sendim estavam vandalizadas, praticamente destruídas. Mas de então para cá muito se tem feito para que o emblema daquela freguesia de Felgueiras voltasse a ganhar brilho. O último passo deixou para trás o futebol popular com a filiação na Associação de Futebol do Porto e concretizou um sonho que começou a ganhar contornos mais reais a meio da temporada passada, quando se deu início ao processo. Hoje, com a consequente entrada no campeonato da II Divisão Distrital, a Direção do clube liderado por José Cunha, tem consciência de que a fasquia está mais elevada e que o futuro também vai exigir mais a toda a gente.
“Pegar no clube foi um desafio lançado pelo atual presidente da junta, que na altura ia concorrer às eleições. Disse-nos que se ganhasse queria que o clube fosse revitalizado e que eu e mais três éramos as pessoas certas para assumir isso. É o clube da minha terra, um clube de que gosto muito, foi o meu pai que me ensinou a gostar do ACR Sendim. Não estou sozinho, somos 16 diretores e se não fossem eles não conseguia fazer nada. Depois há os jogadores, a equipa técnica e os patrocinadores e todos têm ajudado a empurrar isto para chegar onde estamos hoje”, contou o presidente José Cunha.
A filiação na Associação de Futebol do Porto era um destino lógico para quem se propõe crescer nos próximos anos. Começou por ser assunto de discussão entre apaixonados pelo ACR Sendim e foi ganhando contornos até se concretizar.
“De início não tínhamos capacidade financeira, nem jogadores. Começámos a tratar dos documentos, se calhar ninguém acreditava que isto fosse possível na freguesia, mas a minha direção foi à luta por isto e estamos confiantes e orgulhosos, embora, do ponto de vista desportivo, tenhamos a noção clara de que não nos podemos iludir e que temos de encarar a próxima temporada jogo a jogo”, explicou. Decisivo em todo este processo foi o empurrão dado pelo atual treinador: “O Vasco Quintela tem sido uma excelente pessoa, um bom treinador, que não conhecia, mas que nos tem ajudado imenso. Perdemos apenas um jogo na segunda volta, na época passada, mas foi ele que nos impulsionou. Até à data tem mostrado ser um grande homem e um excelente treinador”.
Nesta altura, ninguém esconde uma certa ansiedade pelo sorteio do campeonato. “Há equipas fortes na AF Porto e temos noção que vai ser um campeonato competitivo. Não vamos iludir-nos, mas é um desafio bom, uma pressão boa, estamos mortinhos pelo sorteio e pelo calendário do campeonato. Dia 10 de agosto logo se verá com o sorteio. Começamos a treinar, só há taça a 18 de setembro, temos 21 jogadores, vamos ver se conseguimos mais alguns, embora o mister já esteja satisfeito com os que tem”, completou o presidente.
O que marcou a Direção do ACR Sendim foram algumas reações à entrada do clube para a AF Porto. “Temos tido apoio de muita gente da freguesia e do concelho. Quando souberam que estávamos filiados na Associação de Futebol do Porto, recebi uma chamada do vereador do desporto da Câmara Municipal de Felgueiras a dar-nos os parabéns. Não estávamos à espera, parece que não, mas isso tocou-nos. O que quero dizer com isto é que uma Câmara Municipal ou uma Junta de Freguesia não servem só para nos ajudar com dinheiro… Com o Presidente da junta é igual, foi jogador e capitão do Sendim e o melhor marcador do clube e talvez o capitão que mais jogos fez com a braçadeira, portanto há aqui outros laços importantes”, lembrou José Cunha.
Quem chega e olha para o campo não consegue evitar uma pergunta óbvia: para quando um relvado sintético? “Acreditamos que com a ajuda da Câmara Municipal de Felgueiras e da nossa Junta de Freguesia será possível lá chegarmos no futuro. É um projeto essencial, até porque queremos apostar forte na formação e continuar a dotar o clube de melhores condições para cativarmos atletas de todas as idades”.
Ao nível interno, o ACR Sendim não tem nada a ver com um clube do futebol popular, longe disso. E o presidente explicou tudo: “O ACR Sendim é um clube respeitado e organizado, ainda agora se percebeu isso numa fase em que procuramos reforços para a nossa equipa. Costumo dizer que aqui os jogadores só trazem os boxers e o champô, porque fornecemos o resto, desde toalhas aos equipamentos de treino e fatos de treino. Se precisarem de fazer exames, somos nós que os levamos. Até o nosso mister dizia, a meio da temporada, que os nossos jogadores eram muito mimados. Mas eu acho que eles só têm de se concentrar em vir treinar e não pensar se não trouxeram meias, ou se falta uma peça do equipamento. Para exigir tenho de lhes dar as melhores condições para depois poder chamá-los à atenção quando é preciso”.
Na camisola, em vez das iniciais de José Cunha salta à vista a palavra “Pai”. “Vem de há uma dezena de anos para cá, quando estava no Operário Futebol Clube de Fafe, um clube que tem o modelo de gestão que estou a implementar aqui no Sendim, com muito bons resultados. Tem a ver com o facto de ter ajudado alguns jogadores na altura em que estive em Fafe, alguns estão hoje em clubes grandes. Começaram a chamar-me “pai”, pegou e ficou. Na freguesia todos me conhecem por “pai”, porque sou amigo de todos e ajudo os que posso ajudar”, explicou.
Com espaço para mais dois ou três jogadores no plantel, José Cunha não esconde que tem sentido os efeitos positivos da filiação do clube na AF Porto. “Já ajudou a atrair outros jogadores. Convidamos jogadores na época passada que não aceitaram jogar no futebol popular e que este ano nos deram o sim. Só tivemos uma nega dos que estavam na lista que o treinador nos entregou. Mas não nos podemos queixar no geral. Temos patrocinadores para os nossos equipamentos, uma indústria de calçado que nos ajuda muito. Por vezes não podem dar 10, mas dão cinco e muitos cincos fazem muitos dez. Acredito que à medida que virem o clube crescer vão continuar a ajudar, porque também sentirão orgulho nisso”, sublinhou.
Por fim, José Cunha não escondeu a satisfação com o passo dado: "Fomos muito bem acolhidos pela AF Porto". Para já, os olhos estão postos no Campeonato da II Divisão Distrital da AF Porto, onde o ACR Sendim não quer fazer figura de “bombo da festa” por chegar do futebol popular. Como se costuma dizer; isto não é como começa, é como acaba, rematou.