O Grupo Desportivo Aldeia Nova subiu à Divisão de Honra da AF Porto e bem se pode dizer que tudo se deveu ao que no futebol se conhece por “chicotada psicológica”. Passando a explicar: à segunda jornada o presidente Vítor Melo já tinha tido duas equipas técnicas à frente dos destinos de um coletivo que tardava a entrar nos eixos que se pretendiam. O grande objetivo delineado passava pela subida de divisão. “Fizemos a pré-época com um treinador que saiu para a Oliveirense e fomos buscar uma equipa técnica com pouco experiência, que não resultou, e à segunda jornada decidimos demiti-los”, explicou o presidente. O plano passava por voltar ao mercado para arranjar uma solução nova para o banco. “Entretanto, enquanto não se encontrava uma alternativa, recorremos aos nossos treinadores de juniores e juvenis, o Hélder Dores e o Tiago Portulez”, acrescentou. Só que a equipa foi estabilizando e os resultados foram aparecendo. A certa altura, a equipa estava a crescer e as opções de transição passaram a opções definitivas.
O próprio mister Hélder Dores reconheceu que nunca tinha treinado uma equipa sénior até então. “De certa forma, sim, podemos admitir o tal efeito da "chicotada" no Aldeia Nova. Mas digamos que correu tudo bem”, comentou. No Facebook do clube, o reconhecimento do papel do treinador que escreveu a página mais brilhante do GD Aldeia Nova até à data é mais do que evidente.
O comentário do capitão Tiago Carvalho diz muito sobre aquilo que o mister ajudou a alcançar. “Se alguém merece este título, este senhor é um deles. Que homem! Que pessoa incrível! Das melhores pessoas que conheci no futebol. O futuro de certeza vai ter muitas coisas boas para ele. Grande abraço mister”, pode ler-se. O mesmo Tiago Carvalho não escondeu a “montanha” de emoções que sentiu quando soou o apito final, que permitiu levantar o troféu de campeão. “Todos choravam, olhávamos para a bancada e os nossos familiares estavam lá. É diferente, valeu a pena passar por todos aqueles sacrifícios, por isso tem um sabor especial. Não jogamos por dinheiro, já tinha sido campeão no Infesta, mas um título é sempre especial por tudo aquilo que passamos ao longo de uma época”, contou.
Afinal, o melhor reforço do clube estava dentro de portas, mas nem por isso se percebe um Hélder Dores em bicos de pés, longe disso. “Foi importante conhecer bem o clube e as pessoas de cá. Já conhecia bem a equipa sénior, perceberam aquilo que queria e acabou por ser fácil trabalhar com os jogadores”, atirou o treinador, com a mesma sobriedade no discurso. Aliás, o futuro do técnico passa… pelo regresso à formação, até porque o treinador da equipa sénior para a próxima temporada já foi anunciado pelos responsáveis do clube. “Foi uma opção nossa, conversamos abertamente com a direção e chegamos à conclusão que seria melhor mudar”, explicou, antes de esclarecer que não quer que olhem para ele como fonte de pressão sobre a nova equipa técnica, depois do sucesso que teve. “Quero todo o sucesso para o Milton Ribeiro. Não sou trunfo nenhum, nem se trata de pressionar seja quem for. Estou aqui para ajudar, só isso. O mister tem capacidade para levar esta equipa ao sucesso, já conversamos e ele sabe qual vai ser a minha postura”.
É claro que jogar na Divisão de Honra da Associação de Futebol do Porto vai ter outras implicações, mas o Aldeia Nova não caiu ali de pára-quedas. “O objetivo desta direção é levar o Aldeia Nova à Elite, sem dar passos maiores do que as pernas. Na próxima época queremos consolidar a nossa subida para depois tentarmos à Elite. Se as coisas correrem bem, também não vamos olhar para o lado, vamos tentar fazer a nossa parte, mas a ideia é subir, consolidar e estabilizar e lutar pela Elite na época seguinte”, explicou Vítor Melo.
A preocupação do presidente é a consistência dentro de campo, mas também fora dele, sempre com a mira posta na aquisição das melhores condições de trabalho possíveis para um clube onde a gestão, o rigor e a organização são imagem de marca. “Para termos algumas receitas, alugamos os campos, sem prejudicar os 266 atletas que temos na nossa formação, onde competimos em todos os escalões. Mas recordo-me que quando tomamos conta do clube tive de suspender o futebol sénior. Na altura ninguém gostou, mas foi a melhor decisão que podia ter tomado, porque dei um passo atrás para depois dar dois à frente. Criou-se tudo de raiz, criaram-se novos regulamentos, fez tudo com organização. Mas temos um fio condutor muito próprio, que é simples: se for rentável fazemos, se não for não se faz. Trabalhamos num contexto de gestão comercial muito rigoroso. Cada departamento tem as suas funções muito bem definidas, aqui toda a gente sabe aquilo que tem de fazer. Está tudo organizado”, explicou.
No fundo, o Vítor Melo diretor comercial no dia-a-dia, transferiu o mesmo modelo para o clube e com sucesso.
Desde 2013, altura em que assumiu a direção, o Aldeia Nova tem crescido a todos os níveis e tem conseguido dotar-se de boas infraestruturas. “Já tenho tirado à minha casa para adiantar dinheiro ao Aldeia Nova, que recupero mais tarde”, reconheceu. “Mas tenho muitas pessoas a trabalhar no clube, acho que “engano” bem o pessoal (risos), consigo envolvê-los bem nos projetos, mas tem de ser assim para dinamizar o clube. Sabemos o que queremos e os projetos que temos, um deles é uma bancada para criarmos alguma receita, mas precisamos do apoio da Câmara Municipal e da Junta de Freguesia, que têm sido muito importantes para nós e nos têm ajudado. Os clubes precisam de fazer obras e de as divulgar. No Aldeia Nova não só fazemos a obra, como se vê e se sabe exatamente quanto se gastou, somos transparentes naquilo que fazemos”, garantiu.
A poucas horas de ir de férias, Vítor Melo aproveitou para lembrar que o título foi mérito da equipa, mas que essa mesma equipa tem muitos elementos que trabalharam atrás da cortina ao longo da temporada para que o sucesso do Aldeia Nova fosse hoje uma realidade: “Sempre disse que o sucesso esteve no balneário, mas desse balneário também fazem parte o Teixeira, diretor desportivo; Vítor Matos, vice-presidente; o Júlio, diretor da equipa sénior e o Dênis, preparador físico. Mas também o Franco, que é nosso treinador de guarda-redes. Foi preciso saber unir as tropas em alguns momentos, mas a nossa força esteve sempre neste balneário”.