João Monteiro soma um total de 15 subidas de divisão, superando Vítor Oliveira (11), o que faz dele o treinador da Associação de Futebol do Porto com mais subidas registadas. O antigo técnico, natural do Marco de Canaveses, chegou a subir cinco vezes de forma consecutiva, entre várias divisões distritais, conduzindo alguns clubes às portas dos nacionais. Campeão cinco vezes, pelo caminho chegou a ter a oportunidade para treinar algumas equipas profissionais, mas foi no banco de 13 clubes dos distritais que brilhou. “Criei uma fama tão grande que só me abordavam para subir”, contou.
O percurso de João Monteiro no banco começa em 1974/75, aos comandos dos juniores do Marco de Canaveses, equipa que rapidamente o lançou para o futebol sénior, depois de só ter somado duas derrotas em 40 jogos: “Quando comecei não tinha curso de treinador. Falei com o José Pereira, presidente da Associação Nacional de Treinadores de Futebol, para fazer o primeiro nível. Perguntou o que tinha feito no futebol. Disse-lhe que tinha subido cinco vezes e ele respondeu, então e eu é que lhe vou fazer o exame? Você é que me devia fazer o exame a mim!”
Ao longo de um percurso de 30 anos a treinar, várias foram as vezes em que falhou por um triz a subida. Podia ter sido campeão pelo Alpendorada, por exemplo, se no relatório não lhe tivessem trocado o nome de um jogador expulso. “Foi um delegado improvisado que assinou um relatório em que o jogador que lá vinha expulso tinha jogado até ao fim. Estava errado, era outro. Como não nos apercebemos disso, pusemos naturalmente esse mesmo jogador em campo no jogo seguinte, contra o Canidelo. Vencemos, mas foi instaurado um inquérito que acabaria por lhes atribuir o título injustamente. Eles até deviam ter tido vergonha por ter aceitado aquele título”, lamenta ainda hoje.
Mas o que não faltam são peripécias, umas mais desafiantes do que as outras, como a temporada ao serviço do Caíde em que subiu o clube da bancada, por causa de uma suspensão. “Começa com uma suspensão de 15 dias de que não fui informado. Ninguém tinha lido a correspondência da Associação de Futebol do Porto, fui para o banco ilegalmente, sem saber, e apanhei um ano de suspensão por causa disso. Na época seguinte fui treinar o Caíde, meti advogado, recorri, mas mantiveram-me o castigo. Subimos na mesma. Da bancada tinha uma visão muito melhor, aliás, um treinador nunca devia estar no banco, porque percebe melhor o jogo da bancada e fui campeão”, recordou.
João Monteiro é hoje um empresário de sucesso, pelo que desde muito cedo se tornou difícil conciliar tudo com a paixão que tinha pelo futebol. “Só não tem tempo para nada quem não faz nada. Quem estiver muito ocupado tem tempo para tudo. Conseguia gerir a minha vida de maneira a nunca chegar tarde a um treino. Fazia uma sande, saía à pressa, muitas vezes até me vestia pelo caminho e só chegava cinco minutos antes. Mas à hora começava o treino”, garantiu. Onde mais se inspirava era ao volante: “Ainda hoje, quando preciso de pensar em alguma coisa, vou dar uma volta de carro”. Na rua não são poucas as vezes em que é abordado por antigos jogadores: “Eles cumprimentam-me e eu até tenho dificuldades em reconhecer alguns. Digo que sim, e tal, e fico a pensar de onde os conheci. A mim dizem que estou igual (risos)”.
Geralmente, o mister João Monteiro, como ainda o chamam hoje, gostava de sair no fim da época. “Preferia um clube para subir, do que um clube para andar no meio da tabela, nem que fosse de um escalão inferior, desde que fosse para subir. Prefiro um clube com ambição”, explicou. Homem de “muita fé”, o mister não acredita que Deus se meta no futebol, “só lhe peço um bom jogo”. Mas seguia a intuição: “O ritual do futebol é fantástico. Analisava os jogadores no balneário. Só pela forma de se equiparem percebia se ia correr bem ou mal. O futebol ensinou-me muito, até para a minha vida profissional”.
Essencial para garantir o sucesso diz que é formar o homem antes do atleta. “Depois do homem é que vem a técnica. Mas também temos de saber entender o futebol, por exemplo, mesmo quando a nossa equipa perde a fazer um bom jogo.
O sucesso sublinha ainda, também passa pelo conhecimento pessoal, “como é que posso entender os outros, sem entender primeiro o meu feitio?”, questiona, antes de recordar a subida que mais o marcou: “Na primeira época com os juniores, em Vila Real, tivemos um jogo decisivo, em que o empate até chegava para nós. Podíamos estar a ganhar por dois ou três no final da primeira parte. A equipa sentiu isso na segunda. Nos últimos minutos foi um massacre. O Almir segurava a bola e ganhava faltas. Fazia de treinador e massagista. A certa altura o Almir fica no chão, eu entro por ali fora com a mala do massagista, chego, abro a mala, e não tinha nada lá dentro. O árbitro pôs-me fora do campo aos empurrões (risos)”.
Como jogador era dos duros, partiu as pernas três vezes. “Numa delas foi num jogo com o Virgílio, que viria a ser guarda-redes do FC Porto. Ele jogava como ponta-de-lança e preparava-se para fazer golo, quando estiquei uma perna à frente do pé dele”, contou. Não transmitia medo em lado nenhum, contra adversário nenhum”, acrescentou. Hoje, o olhar de João Monteiro não engana, o entusiasmo pelo futebol continua lá. “Andei a enganar a minha mulher dez anos, dizendo que era a última época e que deixava o futebol, mas se ela morresse – oxalá que não [sublinha] – tenho a certeza que ia lá parar outra vez”, reconheceu.
A ligação ao Marco continua forte e Eduardo Felipe, presidente do clube, reconhece que é João Monteiro o principal responsável por ter assumido o clube. “Foi ele que me convenceu a assumir o clube numa fase difícil. Tinha sido jogador, mas nunca tinha sido dirigente e ele foi o que mais me incentivou. Deu sempre o seu apoio, disse sempre para não me preocupar, que me ia ajudar. Impulsionou sempre como um amigo, aconselhando-me. Consegue cativar muita gente para nos ajudar e é uma pessoa fundamental. O facto de gostar do clube também faz dele uma das pessoas que mais me cobram para voltarmos a colocar o Marco lá em cima”, explicou o atual presidente. O objetivo é o regresso aos nacionais.