Por ocasião do XV Congresso Nacional da Associação Nacional de Treinadores (ANTF), que vai decorrer entre os dias 4 e 5 de junho no Pavilhão Multiusos de Gondomar, estivemos à conversa com o Presidente da entidade, José Pereira, que nos falou do panôrama atual dos treinadores portugueses e do papel da Associação de Futebol do Porto neste contexto.
O presidente da Associação Nacional de Treinadores de Futebol (ANTF) diz que a AF Porto conta com mais de 1600 treinadores filiados na ANTF e que, como associação mais representativa do país, tem sido fundamental para cobrir as necessidades de treinadores não só ao nível distrital, como nacional.
Como está a ANTF no panorama nacional?
Temos cerca de 7 mil associados, o que representa um número significativo de treinadores na Associação Nacional de Treinadores de Futebol e não haverá muitas associações com tantos membros em Portugal. Serão até poucos os clubes de futebol com 7 mil ou mais associados, se calhar contam-se pelos dedos de uma mão. O nosso objetivo passa pela defesa dos direitos dos nossos associados e pelo nosso contributo nas ações de formação complementar gratuitas, que se somam aos cursos que são dados pelas associações de futebol, e que permitem ajudar os nossos sócios a reciclar os seus conhecimentos, periodicamente.
Que papel tem tido a Associação de Futebol do Porto na promoção da formação dos treinadores?
Tem sido um parceiro importantíssimo, porque é a associação com mais treinadores do país, são mais de 1600 filiados na ANTF. É a associação mais representativa de todas as nossas associações distritais. A relação tem sido ótima, ao ponto de já nos termos servido das próprias instalações da Associação de Futebol do Porto para as nossas ações de formação. Portanto, temos tido um entendimento e uma colaboração muito ampla. Já era assim desde o Dr. Adriano Pinto, continuou com o Dr. Lourenço Pinto e agora mantém-se com o Presidente José Neves, uma pessoa excecional, com quem temos uma relação muito próxima e de grande respeito entre instituições.
Há lacunas para trabalhar, quando se sabe que no futebol não profissional os treinadores não são só treinadores nos seus clubes?
Há sempre, claro, mas no que diz respeito à Associação de Futebol do Porto têm sido pioneiros no que concerne aos direitos dos treinadores e as suas equipas têm todas os seus treinadores credenciados e, portanto, cumprem os regulamentos. Há uma ou outra em que isso não acontece, e sabemos das dificuldades que são inerentes, muitas vezes em associações do Interior, porque não têm treinadores em número suficientes para cobrir todas as suas equipas. Mas a AF Porto é enorme e tem inúmeros jogos semanais, nos quais as equipas técnicas estão devidamente credenciadas, tanto quanto nos é dado a perceber. Melhor do que isto não podemos ter.
De que forma pode atuar a AF Porto para melhorar o nível dos treinadores?
Com ações de formação junto dos treinadores e levando os clubes a melhorar as condições de trabalho em termos de infraestrutura. Com a certificação já se sente essa exigência e na Associação de Futebol do Porto já se trabalha há muito nesse sentido. Embora haja muitos clubes em que isso não seja fácil, mas o pensamento do Presidente José Neves caminhará certamente para esse objetivo, porque essa vai ter de ser a opção para que as equipas surjam com boas condições quando chegam aos escalões superiores. A pandemia veio atrasar um pouco as coisas, mas essas serão formas de selecionar os clubes para que façam as obras antes de subir de divisão e não só quando sobem.
Por falar em pandemia, a Associação de Futebol do Porto procurou manter a formação com todo o tipo de iniciativas, nomeadamente através do online. Já se consegue avaliar as consequências?
Os cursos online são sempre melhor do que nada, embora indo ao terreno seja diferente, mas não podíamos prejudicar quem procurava documentar-se para exercer a sua atividade devidamente credenciada. Nas ações de formação complementares que tivemos na ANTF contamos cerca de 12 mil treinadores inscritos. É claro que ficaram algumas coisas para trás nos níveis superiores e na obtenção do respetivo título, porque não eram permitidos certos cursos sem ser presencialmente. Mas toda a gente procurou limitar os efeitos negativos da pandemia. Na ANTF aproveitamos para proporcionar cursos de inglês gratuitos, aliás como tudo o que fazemos para os nossos sócios, cursos de primeiros socorros, etc... Recordo que são cursos extra-futebol, porque os cursos de nível I e II são dados pelas associações de futebol e os de nível III e IV são ministrados pela Federação Portuguesa de Futebol. A ANTF não pretende fazer cursos, mas dar apoio à formação dos que já têm cursos, para que melhorem as suas competências.
A pandemia agravou o problema dos treinadores que procuram formação de nível III e IV?
O modelo funciona bem, embora haja poucos cursos de nível III e IV. Temos vindo a falar com a Federação para corrigir isso. No caso do curso de nível IV só com autorização da UEFA. Mas é verdade que temos tido dificuldade até porque temos cerca de 400 treinadores no estrangeiro e alguns estão a ter problemas por não conseguirem fazer o curso de nível III. A Federação está sensibilizada para isso, para preencher essa lacuna em especial nos cursos de nível III.
Os treinadores que se têm formado ao nível das associações são suficientes para alimentar as necessidades atuais?
Estamos a passar uma fase em que estamos com necessidade de novos treinadores. A Associação de Futebol do Porto, por exemplo, precisa de várias centenas de treinadores todos os anos, para que toda a gente esteja devidamente credenciada para exercer a profissão. Mas também temos de preparar mais formação ao nível dos treinadores de futebol de formação, treinadores de guarda-redes e de treinadores de futsal. A pandemia atrasou o desenvolvimento desse trabalho, mas temos de insistir nessa especialização, que também faz falta, porque há pouca formação específica. Por exemplo, ainda não temos um curso de guarda-redes no futebol, mas há gente com conhecimento acumulado ao longo dos anos que o poderá transmitir para aumentar as competências dos que enveredam por esse caminho.
O que se tem feito ao nível da formação distrital tem ajudado os treinadores a tornarem-se cada vez mais profissionais?
Eles são tão profissionais como os outros e dedicam-se ao que fazem com grande empenho e carinho e com muita dinâmica e prazer. Alguns até têm problemas familiares por se dedicarem tanto e a maior parte nem é compensada por isso. Mas tanto as associações distritais, como a ANTF, a Federação Portuguesa de Futebol e a Associação de Futebol do Porto, em especial, têm trabalhado no sentido de proporcionar cada vez mais e melhores condições para que os treinadores se apetrechem cada vez mais e possam melhorar. Não há outra forma de alcançar o sucesso.
O treinador é um homem cada vez mais multifacetado?
Tem de ser. Neste momento tem à sua disposição um leque muito maior de ferramentas que antes não tinha, inclusive um número mais significativo de colaboradores diretos no treino e os clubes preparam-se cada vez mais com estruturas mais modernas para apoiar as suas equipas e os treinadores. Já temos clubes no Distrital com departamentos bem definidos e bem orientados, num apoio incessante aos treinadores, que podem tirar grandes proveitos para o seu trabalho.
Quando falamos de futebol não profissional, podemos dizer que os treinadores estão cada vez mais dotados de competências e de conhecimento para evoluir nas suas profissões…
Não tenho dúvidas, aliás, os próprios cursos proporcionam isso neste momento e todos os seus treinadores procuram adquirir conhecimentos para estar preparados, porque às vezes surge um convite e os treinadores têm de estar prontos, ou então… preparados para falhar. Mas nesse aspeto todos se preparam convenientemente e estão atentos a este leque de ferramentas que têm à sua disposição para que, quando a oportunidade surgir, poderem falhar eventualmente, mas não por falta de condições.
A procura de conhecimento tem de ser constante na vida de um treinador…
A vida de um treinador é um desafio constante, onde temos de estar sempre com os olhos bem abertos para ver o que fazem os nossos colegas e o que se faz no estrangeiro, como trabalham os nossos adversários e como podemos contrariar as opções deles. Digamos que obriga a estarmos atentos em permanência a todas as situações e isso exige que o treinador procure melhorar as suas competências, porque a meta é essa. Temos de ser melhor hoje do que ontem e melhores amanhã do que hoje, é como estar na vida. Todos procuram mais conhecimento. Quando organizamos os nossos fóruns em função das Cidades Europeias de Desporto, juntamos facilmente 800 a 900 treinadores para assistir a dois dias de transmissão de conhecimento e de experiências e não falo só de treinadores de topo, mas de todos os níveis.
Que ferramentas estão na calha para ajudar os treinadores e melhorar?
Estamos a produzir um software para os nossos associados para que, quer do futebol juvenil, quer do Distrital, tenham as mesmas ferramentas que tem uma equipa de uma I Divisão. Vão poder dispor de um auxiliar precioso, tal como as grandes equipas profissionais, e será distribuído gratuitamente com o objetivo de ajudarmos os nossos filiados a melhorar as suas competências. Queremos proporcionar essa ferramenta aos nossos treinadores, porque muitos deles não ganham para as despesas, quanto mais para adquirir um programa desses. Esse software será apresentado no nosso congresso, para que os nossos treinadores o possam testar e se todos entenderem que está conforme será distribuído para que possam começar a preparar a próxima época já com esse programa.
Com tantas tarefas associadas ao trabalho de um treinador do distrital, também é possível vê-los fazer a diferença?
Conseguem. Há sempre uns mais criativos do que outros. Uns adaptam-se mais ao profissionalismo exigente do que outros. E também há treinadores muito competentes no trabalho de base das equipas, que não são reconhecidos. Mas conseguem porque essa gente não ganha muito dinheiro, mas tem uma paixão tão grande pelo futebol que os leva a superar os seus limites.