No aquecimento para o treino dos árbitros da Associação de Futebol do Porto discutem-se os lances mais polémicos do fim-de-semana, não para defender este ou aquele emblema, mas para perceber aquilo que terá levado o árbitro em causa a tomar uma decisão que dividiu os adeptos. No Complexo Desportivo de Lousada, onde treina um dos três núcleos de árbitros da Associação de Futebol do Porto, os argumentos são vários na procura de explicações e as interpretações da lei também. Ali ao lado, Fernando Pinto, que venceu o concurso que o vai levar a marcar presença na final da Taça de Portugal, faz o aquecimento com Ricardo Dias, seu chefe de equipa, e contou-nos a história que o vai marcar para a vida.
“Soube do Encontro Nacional de Árbitros Jovens pelo meu chefe de equipa, inscrevi-me e a Associação de Futebol do Porto escolheu os árbitros com melhores notas nos testes. A seguir houve um encontro na Mealhada com árbitros das 22 associações, fiz provas físicas e escritas e ganhei o direito a estar na final da Taça de Portugal como quarto árbitro”, explicou o jovem de 17 anos. A opção pela arbitragem surgiu há dois anos, fortemente influenciada pelo pai, como se percebe: “Primeiro, sempre gostei de futebol, depois, o meu pai [Joaquim Pinto] também é árbitro da Associação de Futebol do Porto. Fui vendo os jogos dele e comecei a interessar-me pelo trabalho dos árbitros, até que resolvi tirar o curso com 15 anos”.
A temporada ainda nem a meio vai, pelo que Fernando Pinto tenta não pensar muito na final da Taça de Portugal. “Quero continuar a trabalhar como até aqui. Espero um dia chegar a arbitrar jogos da I Liga, é o meu objetivo, mas sei que tenho de trabalhar muito para lá chegar. Sigo alguns jogos da Taça de Portugal para ver as equipas em competição, mas ainda falta muito para a final.
Para já, o objetivo é ajudar o meu chefe de equipa a subir ao Nacional”, explicou, ainda que não esconda uma certa ansiedade por viver o momento: “Vai dar para perceber como é que os árbitros da primeira categoria preparam o jogo, como fazem a análise ao intervalo, como funciona o VAR e a máquina toda da arbitragem. À margem do destaque que a final lhe traz, Fernando revela um caráter já bastante maduro para a idade, quando aborda o desafio de se tornar árbitro de primeira categoria. “Sei que a concorrência é sempre muito grande, porque temos muitas associações a trabalhar pelo país fora. Além disso, há muitos degraus a percorrer até chegar lá em cima. Mas há também a imagem do árbitro, que tem de fazer muitos sacrifícios e conciliar trabalho e arbitragem com a família, como vejo com o meu pai. Tem de haver uma disciplina muito grande”, apontou.
Por esta altura, o jovem árbitro quer continuar a tirar partido das condições que lhe são oferecidas para crescer: “A Associação de Futebol do Porto tem feito um grande trabalho na formação dos árbitros, tem desenvolvido ações de formação online, tem criado espaços para treinar cada vez com mais condições, os prémios têm aumentado, vão tentado cativar mais jovens e as ações de formação são frequentes. Os árbitros têm cada vez mais instrução e estão cada vez mais bem preparados para ir para o campo. Além disso, o Conselho de Arbitragem também nos tem apoiado em quase tudo. Ultimamente desenvolveram uma aplicação nova para fazer os relatórios, mas estão sempre disponíveis para ajudar nas dificuldades que vão aparecendo. As condições estão cada vez melhores e acho que os jovens olham cada vez mais para a arbitragem como um caminho a seguir no futebol”.
Os três núcleos de árbitros da Associação de Futebol do Porto também se têm revelado muito importantes na formação. “Têm trabalhado bem, apesar ser uma área não profissional. As formações são constantes e há muita troca de informação entre os árbitros. Mas a evolução também depende muito do trabalho interno de cada equipa”, sublinhou. A experiência que se transmite na formação também se tem revelado muito importante. “Alguns ex-árbitros são decisivos para nos transmitirem aquilo que já passaram e com isso, a cada lance que nos é colocado temos melhor perceção de como devemos agir. Discutimos entre nós muitos lances para perceber, por exemplo, o que levou o árbitro a decidir daquela forma polémica”, acrescentou.
Além da interpretação correta e da aplicação certa das leis, Fernando Pinto revela a noção de que o árbitro também tem de ter o sentido da pedagogia dentro de campo, sobretudo, como é o caso dele, quando atua em jogos da formação. “Os mais novos são os mais fáceis de controlar, digamos assim, porque ainda estão numa fase de querer jogar e respeitam.
Os juvenis já são os mais difíceis, porque estão numa idade de transição em que se acham, muitas vezes, donos da razão e isso torna as coisas mais complicadas. Já os juniores praticam um futebol mais rápido, estão na transição para os seniores e respeitam mais, porque conhecem melhor o futebol”, explicou. “Mas é importante formar os jovens e levá-los a respeitar, não só o árbitro. Aliás, temos o cartão branco, que é o cartão fair-play, que usamos sempre que alguém tem uma atitude de fair-play para com o adversário, como forma de premiar. Tentamos incutir isso nos escalões mais jovens, fazê-los entender e levá-los a pedir desculpa ao adversário. Temos de procurar manter o respeito entre todos, por vezes mesmo dentro da própria equipa, para que só se preocupem em jogar à bola” acrescentou.
Nesta fase da vida, Fernando Pinto leva a arbitragem como um hobby, mas não esconde um desejo: “No futuro gostava que fosse a minha profissão, porque quero levar isto a sério”.