O Clube Desportivo Águias de Eiriz estreia-se esta temporada na Divisão de Elite e promete reeditar um anúncio publicitário do século passado de uma marca de automóvel, que garantia ter vindo do Japão para ficar. Pois bem, as Águias de Eiriz subiram à Elite para ficar, porque o projeto assumido por Vítor Martins há seis anos tinha esse, entre outros objetivos. No clube do concelho de Paços de Ferreira ninguém acredita, portanto, que se tenha dado um passo maior do que perna, como no ano da subida à Divisão de Honra da AF Porto, em que não havia sequer sintético para jogar. “Nessa altura, valeram-nos a Junta de Freguesia e a Câmara Municipal de Paços de Ferreira, que nos ajudaram. Metemos o sintético a um mês do início do campeonato”, conta Hugo Costa (na foto), um dos dirigentes do clube. A equipa foi treinando em Freamunde até ter condições para regressar a casa. “Fomos treinar para lá das 22h30 até à meia-noite. Mas quando eles quiserem vir aqui treinar teremos todo o gosto em ceder-lhes tudo, porque nunca vamos esquecer o gesto que tiveram connosco”, garante.
Curiosamente, o destino quis que os dois emblemas se defrontassem na Elite. “Para mim, foi a melhor série que nos podia ter calhado, só nos faltou o Vilarinho, daqui perto”, revela Hugo Costa, entusiasmado com a rivalidade que os jogos com os vizinhos prometem gerar no concelho e não só. “Não receamos a descida, viemos para ficar. Temos consciência de que é um passo importante para nós. Mas não gostamos muito de dar passos atrás, por isso é que fomos evoluindo gradualmente ao longo dos últimos anos. Mas se sentirmos que este passo foi muito grande, também não teremos problemas em dar um passo atrás para dar dois à frente mais tarde. O que não vamos é hipotecar o clube”, acrescenta.
Ainda que as Águias de Eiriz tenham subido, a mentalidade ganhadora promete manter-se. “Sabemos que esta época temos de estar preparados para outra realidade. A fasquia competitiva sobe e tivemos a noção disso com a construção do plantel. Fizemos muitas dispensas e duas delas doeram-nos muito. Tivemos de pôr o coração de lado, porque a evolução do clube é que nos levou a tomar as decisões que tomamos. Por isso é que o clube vem crescendo, mas a Elite é outro peso, sem dúvida”, reconhece. A direção de Vítor Martins, ausente devido a compromissos pessoais, estabilizou o clube, primeiro financeiramente, depois a nível desportivo. “Aqui o treinador não durava até ao Natal e nos últimos cinco anos estabilizamos isso. O clube passou a apostar na formação e temos atualmente cerca de 130 jovens a treinar. Aconselhamo-nos com o professor Romeu, que é adjunto nos seniores, e ele construiu uma formação fantástica. Nesta altura temos equipas em todos os escalões, que queremos colocar na I Distrital, porque o Eiriz não é só a equipa sénior, a formação é essencial”, explica.
Num clube com quatro décadas de história, a subida à I Distrital ainda hoje é recordada com saudades e é uma alegria o que os adeptos voltaram a viver em julho, com a final de Ramalde, que consumou a subida à Elite. “Foi fantástico! Mas mais tranquila do que a de 2003/04. A duas semanas do final estávamos em primeiro e perdemos no Cesarense, foi uma tristeza. No último jogo, saltaram paraquedistas, estávamos a ganhar 2-0 e o nosso adversário já só vinha com nove jogadores. O Benfica estava a jogar a final da Taça de Portugal e alguns desertaram. O jogo acabou ao intervalo, porque lesionaram-se vários adversários. Ficamos a segunda parte toda à espera de que o nosso adversário voltasse para acabar o jogo, mas não apareceram. Entretanto, soubemos que o primeiro empatou e aqui foi o fim do Mundo com tanta alegria. Correu tudo bem, porque tínhamos contratado os paraquedistas sem ter a certeza da subida. Até à pandemia, desde 2004, fazemos um convívio para assinalar essa subida, todos os anos”, recorda. Agora o povo de Eiriz espera voltar aos convívios para festejar as vitórias do clube da terra na Divisão de Elite.